Quem é o pai?

Em São João Batista, a municipalização da Escola de Educação Básica Professor Patrício Teixeira Brasil virou uma disputa de paternidade. De um lado, o prefeito Juliano Peixer (UNIÃO) garante que a ideia nasceu no Governo do Estado. Do outro, os documentos — assinados por ele próprio — contam uma história diferente.
Nos papéis, a origem é clara. Um ofício de 15 de janeiro de 2025, redigido com o timbre da Prefeitura e endereçado ao então secretário de Educação Aristides Cimadon, manifesta “interesse na municipalização” e agradece a “disponibilidade do Governo do Estado em solidificar a contribuição com o Município”. O texto vai além da cortesia burocrática e lista contrapartidas — obras, reformas, ônibus escolares e até playgrounds — e mostra que o assunto já era pauta desde o verão, quando o tema ainda não tinha estourado no debate público.
O gesto, mais político que administrativo, deixa evidente que Peixer queria a escola sob controle municipal e o próprio ofício reconhece que “mostra-se temerário fazê-lo neste momento”, sinal de que havia vontade, mas não estrutura. Outro documento, sem data, reforça o interesse e coloca o Município “à disposição para dar andamento aos trâmites legais”.
Tudo isso desmoronou a versão divulgada em setembro, quando a Prefeitura publicou nota tentando reescrever o roteiro — dizendo que o Governo do Estado “tomou a iniciativa” e que o Município apenas “avançou nas tratativas”. A operação narrativa visava deslocar o protagonismo, e com ele a responsabilidade política, para Florianópolis.

Reunião em setembro tratou dos trâmites da municipalização e foi realizada no gabinete.
Mas o diabo mora nos detalhes como diz a expressão popular. A cronologia é implacável e os registros de janeiro mostram que o pedido partiu da Prefeitura, e não do Estado.
E como se não bastasse, um relatório técnico da própria administração municipal jogou mais gasolina no incêndio: 56,5% das escolas de São João Batista estão em nível crítico de maturidade (0% a 39%) e 43,5% em nível limitado (40% a 59%). Nenhuma unidade chegou sequer ao nível moderado.
Em resumo, o que começou como uma tentativa de dividir responsabilidades acabou deixando pais furiosos, e aliados do governador Jorginho Mello (PL) irritadiços.
Nada contesta o que está em papel timbrado. Todo o resto, por enquanto, é revisão de narrativa.