terça-feira, 1 de abril de 2025 VALE DO RIO TIJUCAS E COSTA ESMERALDA

Mudança ideológica

Postado em 17 de março de 2025
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Foto: Reprodução | Google

A polarização política e ideológica vivenciada ao longo dos últimos anos no país ganhou um novo episódio em Tijucas, nesta semana. Gestores do Residencial Simón Bolívar, localizado nas proximidades da Rodovia BR-101, conseguiram, em Assembleia Geral, alterar o nome do condomínio.

Nos bastidores, especula-se que a reivindicação tenha cunho político. Isso porque o venezuelano Simón José Antonio de la Santíssima Trinidad Bolívar Palacios Ponte y Blanco, que batizava o residencial, é associado ao comunismo, um sistema ideológico constantemente ligado aos governados alinhados à esquerda.

Além do prédio, todos os blocos do conjunto habitacional recebiam nomes de políticos brasileiros, como o ex-deputado federal paulista Ulysses Guimarães – um dos fundadores do MDB e figura de liderança no enfrentamento à Ditadura Militar -, e do cearense e ex-governador do Pernambuco, Miguel Arraes, associado ao Partido Socialista Brasileiro, ou de figuras ligadas às atividades sociais.

Em entrevista ao VipSocial, o síndico do prédio, Rafael Vieira, afirmou que “o nome antigo ficou na história” e que 99% dos moradores “não quiseram fazer parte disso”. A partir de agora, o condomínio passa a se chamar Residencial Vila Bela e os blocos serão nominados apenas pelas letras do alfabeto.

RECORRENTE

Há pouco tempo, um movimento similar tentou modificar o nome do Condomínio Residencial Chê Guevara, localizado na Rua do Governo, construído em condições similares ao antigo Simón Bolívar. Durante as obras, a propósito, em 2011, a filha do eterno líder da Revolução Cubana, Aleida Guevara March, chegou a visitar o prédio batizado com o nome do pai.

Entretanto, rapidamente a situação foi contornada e, ao menos até o momento, não houve qualquer medida para a mudança de nome.

CONTRARIADO

O servidor público aposentado, Pedro Manoel da Costa, que coordenou os trabalhos de construção dos dois conjuntos de habitação popular, não aprovou a mudança e tentou, através do diálogo e de consultas jurídicas, convencer os gestores a manterem os nomes originais, mas sem sucesso.

“Eles só desconstroem. Não tem um trabalho de fazer, de buscar, procurar, erguer e construir. Descaracterizaram a função social. A gente só lamenta que a cegueira política, o ódio ideológico e político prevaleça”, lamentou Costa, em atenção ao Blog.

“Foi um trabalho para homenagear grandes figuras da América Latina, do nosso país e de outros países, como a Olga Benário Prestes, a Irmã Dorothy, Margarida Alves, Antonieta de Barros, Paulo Freire, Luiz Carlos Prestes, João Amazonas e Darcy Ribeiro, figuras que estão na história e ninguém vai apagar. Pessoas que lutaram para construir, a duras penas, um mundo melhor. Doaram suas vidas por um país com mais justiças sociais. Mas não desistimos de conquistar isso”, completou.

Nove: O candidato a deputado

Postado em 25 de outubro de 2016
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Dizia o notável e saudoso Ulysses Guimarães embora a autoria da célebre frase também seja atribuída ao finado presidente Tancredo Neves que “em político sem mandato, nem o vento bate nas costas”. Também distinto, guardadas as devidas proporções, o ex-prefeito Elmis Mannrich (PMDB) confirmou, em 2014, que essa expressão não nasceu à toa. Sem cargo eletivo desde 2012, o presidente municipal do PMDB decidiu concorrer à Assembleia Legislativa nas eleições gerais daquele ano. O sonho era antigo; de 2010, no ápice da aprovação popular, quando só não se lançou candidato ao parlamento catarinense porque, contam fontes próximas, não quis entregar a prefeitura ao então vice-prefeito Luiz Rogério da Silva (ainda no PSB), que trazia sequelas dos tempos de oposicionista. O momento, porém, era outro; e os problemas se multiplicaram assustadoramente entre o projeto e sua consumação.

Na fase de planejamento, em reuniões com cabos eleitorais e apoiadores em potencial, Mannrich vislumbrava arrecadar entre 25 mil e 30 mil votos nas regiões do Vale do Rio Tijucas e Costa Esmeralda, além de municípios próximos como Brusque, Governador Celso Ramos e Biguaçu. O ex-prefeito projetava marcar a arrancada da eleição em Tijucas, cidade que governou por oito anos, com votação próxima de 15 mil.

As contas, entretanto, não eram tão simples. A tarefa era árdua. Tanto que a última vaga do PMDB ao Legislativo estadual naquele pleito foi conquistada pela deputada reeleita Dirce Heiderscheidt, que somou 35.997 votos. Além disso, o candidato de Tijucas, que pretendia ser abraçado pelos conterrâneos e vizinhos próximos, viu-se concorrente direto de forasteiros extensivamente amparados por grupos locais, tais como o xaxiense Gelson Merisio (PSD) e o botuveraense Serafim Venzon (PSDB), que foram generosamente acolhidos nas urnas da Capital do Vale e adjacências. Natural de São João Batista, o advogado Mário Marcondes (à época no PR), eleito com 27.627 votos, ainda dividiu com Mannrich o status de “representante do Vale” na disputa regional.

Não bastasse a competição atroz, o malogro das gestões contínuas, de 2005 a 2012, estava na linha de frente dos tribunais. Recursos de processos variados contra o ex-prefeito eram julgados diuturnamente na Justiça Eleitoral, até que, justo na campanha, uma decisão monocrática do STF (Supremo Tribunal Federal) caçou o registro de candidatura de Elmis Mannrich. Os estragos foram avassaladores; e os opositores não tardaram em rotular o representante de Tijucas na corrida pelo parlamento catarinense como “ficha suja”. Causídicos especialistas, gabaritados e caros, foram contratados às pressas para tentar reverter a sentença. Um deles, de acordo com informações extraoficiais, teria sido o renomado advogado eleitoralista Péricles Prade.

A campanha seguiu, em trancos e barrancos; mas entre o eleitorado pairava a dúvida sobre a validação dos votos depositados em Mannrich. Os lânguidos 6.908 conquistados em Tijucas assim como os 15.411 totais , a propósito, não foram computados na apuração, em 5 de outubro de 2014. Porém, a mesma ministra que caçou o registro de candidatura do ex-prefeito, Maria Thereza de Assis Moura, revogou a decisão um mês depois das eleições, e, enfim, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) validou a votação. Mas, pouca diferença fez. As urnas, senhoras da razão, foram impiedosas com o representante da cidade na disputa pelo Legislativo estadual; e outro aviso estava lançado.

Para vencer as eleições municipais deste ano, Elmis Mannrich haveria de praticamente dobrar a votação recebida na cidade em 2014. Desta vez, para tanto, ele contava com os préstimos de alguns ex-adversários que foram favoráveis às candidaturas estrangeiras dois anos atrás; mas, em princípio, estes não conseguiram contradizer o que afirmavam naquela feita, quando desqualificaram o candidato da cidade com a etiqueta de “ficha suja”. Se era intenção continuar marcado na memória recente dos tijuquenses, a candidatura a deputado estadual pode ter sido um equívoco maiúsculo na história política do ex-prefeito. A campanha revelou pendências judiciais que poderiam ser saldadas sem alarde, e que se tornaram fardos gigantescos para o futuro; e as urnas manifestaram novamente, a exemplo de 2012, uma tendência incontida para a mudança. Só não viu quem não quis.