Música triste
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A cidade, uma região inteira, a arte, a cultura, uma legião de admiradores e a noite perderam, de uma só vez, um ilustre e digno representante. O excepcional Kaio Berlinck deu o último falsete no domingo (20) de madrugada, nos braços da mulher, professora Rosimere Furtado. Partiu como queria, sem dor ou sofrimento; mas, para os amigos, fãs e familiares, muito cedo, aos 66 anos, sem pontear mais uma vez o violão ou contar outra anedota.
Foi um dos melhores. Na seresta, nas cordas, no ritmo, na alegria, na sensibilidade e no carisma. Era artista no mais amplo sentido da palavra; de alma, de berço, de vida. Fez história nos palcos e na boemia, na sociedade e além-fronteiras com o Café no Bule — batizado e propalado nas apresentações na tevê, no Programa do Ratinho, no SBT —, e marcou uma geração. A música, em Tijucas e região, tem dois períodos: um antes, e outro depois dele.
Foi-se embora o Kaia multifacetado, que tocava, cantava, animava, interpretava, fazia rir; o Kaia seresteiro, boêmio que não bebia, do samba, da Mere, do Velho Berlinck, da loja de som, dos gestos simples, da gargalhada gostosa, das histórias hilariantes, dos palcos grandes e menores, de amigos em toda parte, de Tijucas, e, agora, da saudade. Que tristeza!
Tivemos a felicidade desde a adolescência fazer parte da história desse grande amigo músico. Foi no inicio de 1970 que juntos participamos da construção da banda Peter Pan. Kaia, Dedo e Roberto Lídio foram os idealizadores e eu(Nacier e Nacir), a convite deles, fomos participar como trompetistas. A partir de momento iniciou-se uma amizade calorosa, mesmo com o encerramento das atividades do Peter Pan, nunca mais paramos. Foram muitos bailes, carnavais e encontros musicais, que a convite do Kaia, sempre que possível estávamos juntos aos sons dos trompetes. Sua voz, se calou, seu violão e cavaquinho não vibraram mais os acordes. Mas sua história ficará para sempre em nossa memória. Amigo e amado por todos tijuquenses e toda a região.
Vivi 34 anos de amizade com meu Cumpadre, conheci ele aos 13 anos de idade por conhecer Adriana minha esposa irmã de esposa Rosemere, Não sabia me dizer não. sempre dava um jeitinho, no último sábado largou compromissos pra está divertindo nosso grupo FFCC. Tivemos muitas histórias juntos se for falar escrevo um livro.
” E por falar em saudades (…)” Já estamos com saudades. Desconheço alguém em Tijucas que tem um repertório tão variado como tinha o Kaio…Tive a oportunidade de dizer isso a ele várias vezes. Um músico de primeira linha. Falo com conhecimento de causa. Tocamos várias vezes em apresentações juntos. Abraços amigo, porque não existe morte…a vida segue.
O Céu ficou mais risonho e musical, embora a saudade nos entristeça, agora. Lembro-me muito bem dele. Foi uma das primeiras pessoas fora do meu ramo (jurídico), que me sorriu, na Princesa do Vale. Algumas serestas, tarde da noite ou madrugada. Nunca esquecerei as idas e vindas, avenida afora, para buscar o alento da música, depois de um dia cansativo e produtivo. Tive o privilégio de fazer alguns duetos, sempre bem aplaudidos por aqueles que estavam ali, na fartura da amizade. Vai, querido, vai em paz. Mere, minha linda, tu o sabes, a energia dele está em ti. E a presença dele, imortal, continuará sussurrando em muitos bemóis, em teu ouvido…