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Quatro: O partido em duas frentes

Postado em 7 de outubro de 2016
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Em meados de 2011, o PSD ressurgia pelas mãos do economista e engenheiro civil Gilberto Kassab, então prefeito de São Paulo. O partido reestreava forte na política nacional, repleto de importantes adesões. Uma das mais relevantes vinha de Santa Catarina: a família Bornhausen deixava o DEM para encorpar a nova bandeira. Na mesma época, a controversa Tríplice Aliança governava o Estado sem oposição e aproximava os Bornhausen do PMDB de Luiz Henrique da Silveira. Fatos que, somados a outras situações, salientavam as conexões entre o prefeito de Tijucas, Elmis Mannrich (PMDB), e o então deputado federal Paulo Bornhausen, principal articulador do recente PSD no território barriga-verde. A relação entre ambos tornou-se tão agradável que não tardou para firmarem um acordo: o candidato a vice-prefeito do PMDB nas eleições majoritárias de 2012 em Tijucas seria um peessedista.

As opções ainda eram escassas na Capital do Vale. O partido começava a se estruturar no prestígio do engenheiro Sérgio Fernandes Cardoso  que, naquela feita, era o tijuquense mais próximo do herdeiro Bornhausen – e contava, na ocasião, com apenas alguns seguidores. O empresário Jilson José de Oliveira e o vereador Ailton Fernandes, que cumpria a quinta legislatura consecutiva, estavam entre eles. O parlamentar, em princípio, ficou pré-selecionado; porque era comedido na Câmara, não fazia oposição severa ao PMDB e gozava de situação econômica interessante à futura campanha.

Mannrich estava no segundo mandato e não poderia mais concorrer no pleito majoritário. O então vereador Valério Tomazi (PMDB) ostentava favoritismo entre os peemedebistas para a sucessão municipal, e a proposta passou a ser apresentada em reuniões diversas com Paulo Bornhausen em Florianópolis. Os encontros eram sempre acompanhados pelo presidente municipal do partido à época, advogado Marcio Rosa. Naquele mesmo ano, havia cerca de 16 meses das eleições, a dupla Valério & Ailton estava chancelada.

Rosa, no entanto, embora houvesse concordado com tudo na ocasião, passou a considerar a candidatura a prefeito. Recebia estímulos diversos dos amigos, dos funcionários do Samae (Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto) autarquia que comandava naquela gestão e de muitos correligionários. Era o presidente do PMDB no município e acreditava que pudesse se impor internamente. Começou, então, a articular a ideia; mesmo que não tratasse abertamente do assunto com o prefeito. Mannrich, por sua vez, sabia das movimentações apenas por terceiros, mas fazia questão de não querer acreditar. Até que quatro meses antes do pleito, no fim do prazo de desincompatibilização para as eleições majoritárias de 2012, a carta de renúncia ao cargo de diretor do Samae chegou à mesa do chefe do Executivo municipal.

Os amigos tornaram-se rivais. As discussões não cessaram. Numa delas, no primeiro gabinete do paço, os gritos ecoaram pelos corredores; e secretários e partidários saíam e entravam freneticamente na sala, nervosos. Elmis Mannrich e Marcio Rosa estavam em lados opostos pela primeira vez desde 2004. O prefeito queria cumprir o compromisso com Tomazi e Bornhausen; o presidente do partido queria o apoio do amigo, com quem era unha e carne, e a quem ajudou, e muito, a eleger oito anos atrás. Mas não houve entendimento. As linhas do PMDB, naquele momento, eram duas. E seguiriam assim para a pré-convenção do partido, semanas depois.

Valério Tomazi e Marcio Rosa travaram uma disputa instigante, voto a voto, no diretório do partido. Ao fim da contagem, para alívio de Mannrich, o vereador levou a melhor. Três votos separaram o vitorioso do derrotado. Uma das alas do PMDB de Tijucas comemorava e a outra lamentava. Enquanto o presidente caminhava, cabisbaixo, para a saída do CTG Fazenda Eliane, onde ocorreu a pré-convenção, a sonorização do evento lançou a clássica “Vou Festejar”, de Beth Carvalho, com o famoso verso “Vou festejar / o teu sofrer / o teu penar”. Era a gota d’água.

O comandante do PMDB, naquelas eleições, não ficou em Tijucas. Assumiu a coordenação de campanha de Sandra Regina Eccel (PMDB) em Nova Trento; mas a família, especialmente mulher e filhos, eram frequentes nas carreatas e comícios da oposição na Capital do Vale. Tomazi venceu nas urnas, sem o presidente do partido nos palanques e na campanha. Depois disso, não houve mais contato, sequer cumprimento, entre Mannrich e seu ex-amigo. Rosa tornou-se opositor a partir de 2013. Assumiu a presidência do PSDB e, mais tarde, filiou-se ao PSD com expectativas muito claras de candidatura a prefeito em 2016 e desforra contra a cúpula periquita.

Como mostra a história recente, Elói Mariano Rocha disputou as eleições deste ano pelo PSD. Preterido entre os colas-brancas e desmedidamente chateado, Marcio Rosa refez, depois de quatro anos, a amizade com Elmis Mannrich. Voltou para casa depois de encabeçar um período de oposição feroz às suas origens. Nesse tempo, transformou muitos periquitos em canários e tucanos; denunciou práticas controversas de ex-aliados a órgãos judiciais; reprovou publicamente, pela imprensa ou nas rodas sociais, condutas de gestões peemedebistas passadas, enfim… O ex-presidente do PMDB voltou, mas também deixou um rastro de destruição pelo caminho. Domingo (2 de outubro de 2016), ele estava lá, tentando desfazer o passado e construir um novo futuro. Não deu tempo.

7 Comentários em “Quatro: O partido em duas frentes”

  1. Eleitor disse:

    O que essa gente não faz por poder hein? Ainda bem que estamos de olho vem aberto.

  2. Zé da INCOPE disse:

    Existe um ditado popular muito conhecido: Quem pula muito acerta pouco.

  3. Águia Que Sobrevoa disse:

    Sinais do coronelismo partidário, ultrapassado, mas que ainda possui tentáculos na Capital do Vale. O personagem em questão pensa na cidade? Ou apenas em suas pretensões? Página virada…
    Espera-se que o PSD (que uniu praticamente todas as oposições neste pleito) não se revista em um partido que os tenha… Caso contrário, será uma gestão e não mais… A expectativa é que o grupo que vai governar a cidade pelos próximos quatro anos não repita algumas práticas canhestras, como o loteamento dos cargos comissionados e a prática das benesses aos “amigos do Rei”. Será que conseguirá?

  4. Antonio lopes disse:

    A palavra da moda em Tijucas é MUDANÇA, mais que mudança é esta com velha ARENA, com Uilson sgrot, Nilton Brito,Walmor Telles, Hélio Grana, Sérgio Cordeiro, Rogerinho Jilson e Sérgio Fernandes, a Arena vingativa que perseguiam funcionários que mandava ficar olhado para parede, mandava ir limpar o cemitério e o caso dos 108 funcionários demitidos!! Espero que não voltem aos tempos não muito distantes, que quem tinha a caneta era o Prefeito mais quem mandava era essas raposas velhas! Vamos dar um voto de confiança e esperar pra ver.

    1. Paulo disse:

      Bom dia Antonio Lopes
      Pode acredita que com professor Eloí e Adalto vai ser o povo quem vai administrara junto com eles
      Isso vai fazer toda a diferencia

  5. Canarinho Cantador disse:

    O bicho vai pegar Antonio Lopes… aceita que dói menos… ui ui ui!

  6. Tapando sol com peneira disse:

    Canarinho Cantador, Os tempos são outros, não existe essa de aceita que dói menos, pq agora as coisas PODEM SER DENUNCIADAS DIARIAMENTE NA NET. E por falar em aceitar sem sentir, na administração do partido da mudança, onde está a mudança quando os ex presidentes que esvaziaram a câmara dos quais estão com seus bens bloqueado, vieram juntos de reboque kkkk? PERSEGUIRAM MUITOS FUNCIONÁRIOS SIM. MAS ACABOU, O TIRO VAI SAIR PELA CULATRA DESSA VEZ!

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