Doze: A letra V, de Valério e de vingança
Nem mesmo os mais otimistas acreditavam que o prefeito Valério Tomazi (PMDB) pudesse vencer a pré-convenção do partido, em 26 de abril. O favorito, ex-prefeito Elmis Mannrich (PMDB), tinha o diretório nas mãos e contava com amplo prestígio na cúpula peemedebista, além de manter precisas relações na estrutura pública do município. A distância entre o vitorioso e o derrotado – especialmente no quesito aptidão política – ficou comprovada na abertura da urna. Das 54 indicações possíveis, o presidente do PMDB de Tijucas assegurou 34; e as outras 20 foram direcionadas ao atual chefe do Executivo municipal.
Os dois concorrentes adotaram estratégias peculiares nas abordagens aos convencionais. Mannrich se sustentou no carisma, na proximidade com os partidários, e pautou o discurso nas pesquisas de opinião pública a respeito da administração municipal vigente – que, de acordo com os institutos contratados, trazia índices de reprovação aterradores. O prefeito, no entanto, em desvantagem, tentou marcar o território com advertências intimidadoras aos comissionados que participavam da executiva peemedebista. Nas reuniões do alto escalão do município, Tomazi era claro quanto às consequências que uma derrota na pré-convenção provocaria. Palavras como “exoneração”, “demissão” e “dispensa” passaram a ser repetidas sistematicamente nos corredores do paço, sempre acompanhadas de outras como “vingança” e “retaliação”.
Na véspera do pleito interno do PMDB, o chefe do Executivo municipal revisitou praticamente todos os membros do diretório. De um a um – exceto daqueles que não dependiam do governo e haviam manifestado abertamente preferência por Mannrich –, ele recebeu promessas de voto na pré-convenção. Se pelo menos a maioria mantivesse a palavra, a sequência do projeto de reeleição estava assegurada. No entanto, depois da abertura da urna, a confiança de outrora transformou-se em frustração e mágoa. Tomazi não perdeu apenas uma disputa partidária. Perdeu amigos, e sentiu no âmago o indecoroso pesar da traição. A temporada de caça às bruxas, contudo, estava oficialmente aberta.
Findadas as férias do prefeito – que serviram fundamentalmente para articular a desejada vitória na pré-convenção –, em 5 de maio, ele voltou ao trabalho. Durante o expediente, o clima era de apreensão. Tomazi não saiu do gabinete naquele dia. Às 17h, porém, os protestos incontidos da secretária de Finanças do município, Rosângela de Fátima Leal da Veiga, pelos corredores da prefeitura anunciavam que as ameaças estavam sendo cumpridas. Além dela, mais seis comissionados da estrutura municipal perderam o emprego naquela primeira chamada. Outras quatro cartas de exoneração foram entregues nos dias seguintes; e dezenas de nomes ainda permaneciam numa lista pessoal do mandatário tijuquense. Embora qualquer poste de Tijucas tivesse certeza que as demissões foram motivadas pelos desgastes da pré-convenção, o chefe do Executivo municipal tratava o assunto, nas entrevistas e incursões públicas, como atenção a um plano de contenção de despesas do município.
A prefeitura operava normalmente, mas com portas fechadas para Mannrich. O candidato a prefeito do PMDB era persona non grata nas seções da administração municipal desde o embate interno do partido. Tomazi, nos encontros seguintes com o funcionalismo em comissão, fazia novas advertências. “Se eu souber que alguém deu um prego, vai ter que pedir emprego lá no Imetro (autarquia estadual que o ex-prefeito presidia na época)” era uma delas. Não se pode dizer, no entanto, que o aviso servisse para os eleitores de ambos os postulantes ao cargo máximo do município. O professor Elói Mariano Rocha (PSD) era oficializado como candidato da oposição na concorrência majoritária e recebia, inclusive, a bênção do mandatário tijuquense. O prefeito chegou a apresentar o oposicionista, de gabinete em gabinete, no paço municipal, como representante do governo de Tijucas na corrida eleitoral de 2016.
As demissões de peemedebistas cessaram, mas alguns aliados da oposição passaram a receber espaço na administração municipal – e, evidentemente, atuaram em favor de Mariano Rocha, ou pelo menos impediram que a máquina pública fosse usada em benefício de Mannrich. A guerra declarada entre o prefeito e seu antecessor trouxe consequências violentas ao PMDB e seu projeto de manutenção do poder. O candidato do partido remava exaustivamente contra uma corrente chamada “mudança”, e não suportou quando o principal tripulante decidiu abandonar o barco.